Princípios Pedagógicos Montessori

Hoje temos novo artigo na rubrica Método Montessori: Princípios Pedagógicos Montessori. Se estiveram atentos no artigo anterior (Maria Montessori) a criadora do Método Montessori trabalhou na Casa de Crianças de S. Lorenzo, em Roma, como resultado do seu trabalho, através da observação, descobriu os princípios pedagógicos que a ajudaram a desenvolver o seu método. Baseado na importância do ambiente, que facilita a expansão do ser em vias de desenvolvimento.

A sua pedagogia é uma proposta pedagógica com bases profundamente científicas e com amplo reconhecimento a nível internacional pelo seu carácter inovador, que ajuda a criança no seu desenvolvimento integral.

Consiste em uma metodologia de ensino baseada na observação da natureza real e espontânea das crianças, o objetivo da educação não deve ser uma mera aquisição de conhecimentos, mas sim o desenvolvimento do potencial físico, intelectual e emocional da criança, para que esta se possa transformar em um adulto independente, pleno e feliz.

Maria Montessori nunca definiu um conjunto de princípios para o seu Método. Todavia, estes princípios são uma forma de organizar todas as suas ideias, tornando mais claras as suas descobertas e perspetiva educacional do Método.

Os seus princípios baseiam-se nas listas de características da sala, dos materiais, do adulto e das crianças que a criadora do Método elaborou durante toda a sua vida, tendo por base a sua observação.

Ou seja…

Existem seis pilares educacionais no Método Montessori, que devem ser incluídos no processo educacional em união:

  • Autoeducação
  • Educação cósmica
  • Educação como ciência
  • Ambiente preparado
  • Criança equilibrada
  • Adulto preparado

Autoeducação

Baseando-se na observação das crianças em liberdade, Maria Montessori, chegou à ideia radical que:

Todas as crianças aprendem coisas sozinhas, como: falar, andar, comer, pegar, reconhecer voz e aparência, receber e fazer carinho, etc. No entanto, na maioria das vezes, nós não percebemos isso.

No Método Montessori o adulto confia na criança

Desde que a criança tenha um contexto adequado, pode desenvolver quase tudo de uma forma independente e livre. É importante realçar que para que aprenda sozinha, a criança, deve e precisa de ter a oportunidade de ver outras pessoas (adultos ou crianças), a fazer coisas; ter a oportunidade de experimentar, testar e tentar sem ser interrompida. Poder perceber os seus próprios erros e a oportunidade para corrigi-los espontaneamente; superar pequenas dificuldades, uma de cada vez, em um ritmo particular e diferente para cada etapa de aprendizagem.

No Método Montessori temos materiais específicos, que são feitos para serem manipulados pela criança, para que possam trabalhar um novo desafio de cada vez e para dar à criança a oportunidade de perceber os seus próprios erros.

A criança tem liberdade para escolher no que quer trabalhar a cada momento, e liberdade para repetir quantas vezes quiser, a criança autoeduca-se constantemente.

Em suma…

Educação Cósmica

Diferente da educação tradicional, a educação cósmica Montessori traz consigo toda a carga de significado da palavra “cosmo”. Proporciona seus alunos uma experiência que vai muito além do desenvolvimento intelectual, trata-se de uma educação que reconhece o ser humano em todas as suas fases (criança, adolescente, adulto, idoso) como agente cósmico, dando-lhe os instrumentos para que se desenvolva de forma holística.

O Método Montessori tem como intuito formar pessoas realizadas, independentes, capazes de ser os protagonistas da própria vida.

Esta visão do mundo permite à criança desenvolver a empatia necessária e uma noção de gratidão e união para com tudo o que há no mundo, percebendo assim a ordem que existe na natureza e no universo. A Educação cósmica tem como intuito oferecer à criança uma visão cósmica do mundo. “Cosmo” é o oposto de “caos“, é a ordem do universo.

Em suma…

Educação com Ciência

Muitas vezes, grande parte, da educação das crianças é baseada em crenças e experiências. Há uma grande tendência em educar os nossos filhos e os nossos alunos como os nossos pais e os nossos professores nos educaram. Fazemos as coisas como fazemos porque achamos que funcionam melhor dessa forma. Um exemplo disso é a organização/estrutura atual nas escolas, ela deriva de um conjunto de crenças e modos de agir do meio do século XVIII, Revolução Industrial, filas de cadeiras, o mesmo conteúdo, ao mesmo tempo, para todos, imobilidade e submissão dos alunos, prémios e castigos como forma de disciplina.

Quando Maria Montessori começou a trabalhar em S. Lorenzo, apesar de não achar que a abordagem, anteriormente referida, fosse a mais adequada, não impôs uma nova pedagogia de acordo com as suas crenças. Deixou as crianças em liberdade, em um ambiente semiestruturado, e observou o seu comportamento, com o intuito de, posteriormente, pensasse em uma educação que não fosse baseada em crenças do adulto e sim do desenvolvimento natural e necessidades das crianças.

Nas escolas ou casas montessorianas, antes de apresentar um material novo ou interromper o que parece ser uma má ação da criança, deve-se parar e observar, para compreender as necessidades reais da criança e qual a melhor abordagem a adotar, com cada criança, em cada momento.

Em suma…

Ambiente Preparado

Para este Método a liberdade é algo de extrema importância. Assim como uma árvore é livre quando está em uma terra fértil, húmida e profunda; a criança também precisa de um ambiente preparado, seguro, e com “nutrientes”, quer físicos, emocionais, quer mentais e sociais, para que possa ser livre para viver.

Para que o ambiente dê liberdade à criança existem algumas condições, primeiramente, acessibilidade, tudo o que é importante deve estar acessível. A criança precisa de ter uma forma de beber água, comer, usar a casa-de-banho e dormir, sem precisar de ajuda ou autorização do adulto. Ou seja, providenciar/dar condições para que a criança tenha liberdade e independência para as suas necessidades básicas.

De forma que, quando falamos em ambiente preparado no Método Montessori, referimo-nos a um espaço planeado e composto para atender as necessidades infantis, bem como para despertar a curiosidade e interesse dos pequenos pelo mundo.

Para que o ambiente siga este propósito devemos ter em atenção vários aspetos, como:

  • Mobiliário e os materiais à altura e alcance da criança, as cadeiras e as mesas são à altura dos pequenos, há tapetes no chão, os materiais e recursos lúdicos ficam ao alcance, além disso, temos elementos naturais, como rochas, plantas e até animais.
  • O ambiente não deve ser hiperestimulante, ambiente tranquilo, pintados com cores claras e neutras, incluindo a mobília. Não é necessário um grande número de materiais.
  • Tudo neste ambiente preparado deve servir como atividade para a criança, todos os materiais, mobília e objetos de decoração, e não, como acontece maioritariamente, apenas terem acesso ao material (em papel, na maioria das vezes) fornecido pelos professores. Adicionalmente, tudo pode ser cuidado, polido, lavável, limpo, reparado, organizado e protegido pela criança.
  • Só há um exemplar de cada material. Quando a criança deseja brincar ou interagir com um material, deve esperar até que ele esteja livre, no caso de estar a ser utilizando no momento. Ao terminar de brincar, os alunos são ensinados a devolvê-los ao seu local de origem. 

O método de Montessori implica devolver à vida das crianças tudo aquilo que lhes pertence, num ambiente de liberdade e independência, onde tudo se encontra preparado para a ação infantil. O adulto deve observar cada criança individualmente e em grupo frequentemente, e desta forma preparar o ambiente educativo, planificando assim atividades  de acordo com os interesses e necessidades observados.” (ChildDiary)

Em suma…

Criança Equilibrada

Mente e corpo, quando as crianças são mais pequenas, o seu pensamento e as suas ações andam em conjunto, segundo Maria Montessori, vontade e ação.

Á medida que crescem, as crianças começam a tentar fazer coisas mais complexas e, muitas das vezes, os adultos com os seus medos, projetam-nos na criança e interferimos nessa evolução. Por exemplo, impedir que subam escadas, insistir em ajudar em abrir gavetas, interrompê-las enquanto lavam as mãos, etc. Pouco a pouco, este tipo de comportamento produz uma separação entre a vontade (que fica na escada, a querer subir) e a ação, que fica em frente à TV ou telemóvel a ver desenhos animados e a percorrer o YouTube, porque foi lá que achámos seguro colocar a criança.

Esta separação da vontade e da ação produz instabilidades de todo o tipo no desenvolvimento da criança, desde movimentos descoordenados, comportamento irritável e de agitação ou, pelo contrário, letárgico, desinteresse, submissão.

Existem várias formas de potencializar o desenvolvimento equilibrado , a criança consegue fazê-lo quando se empenha em atividades desafiadoras e interessantes, que exijam movimento do corpo e aperfeiçoamento inteligente das ações realizadas.

De acordo com este modelo, todas as crianças nascem com um guia interior, sendo que se esse guia puder direcionar a criança para as atitudes certas, vai ser mais simples ajudá-las a obter o melhor estado emocional e físico. Desta forma, ela vai conseguir alcançar o equilíbrio interior e tornar-se muito mais ativa, feliz, perspicaz, concentrada e independente.” (ChildDiary)

Em suma…

Adulto Preparado

Todos os princípios falados anteriormente só funcionam quando o adulto que interage com a criança se esforça para se transformar interiormente. Desta forma, deve sempre mostrar que confia e procura aquilo que é melhor para as crianças, deixando-as a agir sozinhas.

O adulto preparado é um observador que confia e busca nos atos dela as indicações das suas necessidades. Através da observação realizada, quer pela configuração do ambiente que pelas interações, o adulto preparado tenta oferecer os meios para que a criança satisfaça aquilo que é importante e supere aquilo que ainda é um desafio ou um obstáculo. A alegria desse adulto é dupla: ser cada vez menos necessário e ter a oportunidade de observar a vida em desenvolvimento.

Em suma…



Que tal? Já conhecias os Princípios Pedagógicos Montessori? Se sim, tens algo que queiras acrescentar? Se não, tens alguma dúvida? Queremos saber, comenta!

Para a semana temos mais um artigo da rubrica: Método Montessori! Fica atento(a)*

Fontes:

Textos de:

  • Curso Método Montessori & Pikler – IMI 2020
  • Curso intensivo “Método Montessori: Aplicação Prática” – ReConstruir 2020

Grazzini, C. (2013). A Visão cósmica: O plano cósmico, e a Educação Cósmica de Maria Montessori. The NAMTA Journal, Vol. 38(1). Winter.

Kahn, David. (2005). Montessori Erdkinder: The Social Evolution of the Little Community. 25th International Montessori Congress Papers.

Kramer, R. (1988). Maria Montessori: A Biography. De Capo Press.

Lillard, A. (2006). Evaluating Montessori Education. Science, Vol. 313. pp. 1893-1894.

Lillard, L. (2018). Montessori: The Science Behind the Genius. Oxford Univ. Press.

Montessori, M. (2014). A Educação e a Paz, Brasil, Papirus Editora.

Montessori, M. (1965). Pedagogia Científica: a descoberta da criança. Flamboyant.

Standing, E. (1962). Maria Montessori: Her Life and Work. Signet.

Trabalzini, P. (2011). Maria Montessori: Through the Seasons of the Method. The NAMTA Journal. 36(2). Spring.

https://www.montessorichild.net/blog/o-ambiente-preparado-aspectos-importantes

https://www.maemequer.pt/desenvolvimento-infantil/educacao/escola-e-aprendizagem/os-6-pilares-educacionais-do-metodo-montessori/

https://childdiary.net/pt/blog/2017/09/06/como-implementar-metodo-montessori/